28 maio 2013

aprender a ser mãe

É todos os dias, não é? Reconheço que aprendi com a minha (e com o meu pai). Com livros. Com outras mães - sim, em blogues e tudo. E com os meus filhos, parando para os ouvir, sobretudo isso. Pode parecer tão absurdo como evidente mas são os nossos filhos que nos ensinam a ser mães. Deles. Se ouvirmos para além da birra. Se virmos para além do ranho a escorrer. Se lhe conhecermos o calor das bochechas, as fomes de doces (que afinal são de um abraço) e as zangas de brinquedos tresmalhados (que afinal são cansaço). Obrigada, filhos, por me ensinarem todos os dias. Sou tão melhor mãe agora do que era antes. Se fosse ao terceiro ainda era capaz de merecer mesmo aqueles postais que me garantem o primeiro lugar nesse campeonato de que todas devíamos ser as melhores. Sejamos ao menos o melhor possível a cada dia.

21 maio 2013

projectos para o verão

Sem ordem de prioridade mas auto-torcendo mentalmente um braço para que, em não se cumprindo estes planos, façamos outras coisas ainda melhores, que isto a vida são dois dias e os nossos rapazinhos nunca serão tão apetitosos, curiosos e desligados das durezas da existência como agora.

Ora cá vai:

1. Fazer gelados de cuvete;
2. Brincar com plasticina (comprar plasticina nova!);
3. Acampar;
4. Ensinar o Gugas a apertar os atacadores;
5. Mudar o Diogo para a cama grande e fazer o desfralde nocturno;
6. Passear no jardim depois do jantar;
7. Fazer um piquenique na Gulbenkian;
8. Filmar as férias e editar o vídeo a valer;
9. Ir à caça de gambozinos;
10. Caracolada (blhack! mas o Diogo nunca provou...);
11. Ir ao Santo António com a rapaziada e comer farturas;
12. Ir à Feira do Livro e comer farturas;
13. Ensinar o Diogo a fazer body-board;
14. Ensinar o Gugas a conduzir a Moto4. Ah, ah. Brincadeirinha. Ou não...
15. Treinar para a maratona de Outubro;
16. Decidir o que fazer da minha vida profissional;
17. Decidir o que fazer da nossa vida habitacional;
18. Comprar material escolar para o Gugas;
19. Dormir a sesta na varanda;
20. Desenvolver uma campanha familiar pela marcação de uma viagem à Costa Rica.

16 maio 2013

uma espécie de mantras

Quem é que disse aquilo de crescermos e tornarmo-nos nós próprios? Ai, sou terrível com citações. E ainda não decidi se acredito ou não que é possível mudar intencionalmente, tirar um bocadinho daqueles defeitos já cheios de bolor e tentar cultivar novas qualidades. Na dúvida, vou tentando (pode ser só o efeito do sol, como tão bem reparou a Vera). De há tempos para cá, tenho percebido que quero:
Repousar as sobrancelhas: Julgar menos, criticar menos, indignar-me menos.
Fechar os olhos: Desistir de controlar. Apreciar, gozar o momento porque (quase) nada é para sempre.
Respirar fundo: Sentir-me grata. Ao pormenor.
Agora ficavam bem aqui umas imagens de praia, sandálias, florinhas, mas tenho mesmo de trabalhar e não posso andar a passear-me pelo Pinterest (nitidamente, os mantras precisam de ser praticados com mais aplicação).

13 maio 2013

então e aquilo de arranjar casa nova?

Bom, já é praticamente Verão, compreendem? A 5 de Outubro está aqui, está a encher-se de roxo dos jacarandás. A minha vizinha de baixo vai começar a ouvir forró de janela aberta. Vão fazer arraiais no pátio da igreja e vai cheirar a sardinha assada na minha roupa acabada de lavar. Vamos dormir todos fresquinhos entre as paredes de pedra e brincar no jardim quando chegamos da escola. Nestes meses, passa-me toda a vontade de sair daqui.

Já para não falar que a minha nova fixação (recorrente, na verdade) é viajar para algum lado onde podemos andar de pernas ao léu, tropeçar na bicharada, cheirar a respiração morna das plantas gigantes, e fazer de conta que podemos fazer isso para todo o sempre. Ou seja, no dia em que nos sobrar disponibilidade, prefiro dedicá-la a aumentar escandalosamente a nossa pegada ecológica e voar para um lugar distante com a passarada e as nossas mochilas (abandonadas há anos demais).

09 maio 2013

auxiliares de memória

Aos 6 anos, o Gugas

Trata-me por 'Mãe' na escola e por 'Mamã' em casa. Já sabe andar de bicicleta sem rodinhas. Aprendeu a ligar para o meu telemóvel. Desmancha-se a rir com os clássicos da Disney. Já não fala inglês com pronúncia novajersiana mas percebe quase tudo. Continua a adorar construções, prédios, pontes, estruturas. Continua a fazer muitas perguntas - e a responder, agora, às do irmão. Come quantidades tremendas de tudo mas está um esparguete. Demora eternidades a fazer seja o que for e perde-se num mundo só dele. Tem uma paciência sem limites para o piolho que o persegue para todo o lado e lhe tira os brinquedos. Tem medo do desconhecido mas nunca recusa um desafio. Confia cegamente em mim e no pai. Assobia lindamente e pede-me para pôr músicas da Adele no rádio do carro. De vez em quando diz: "Mamã, ainda me lembro daquela vez em que...", com vontade de agarrar para sempre tudo o que já viveu nestes 2222 dias de vida. Tem uma grande noção de justiça e de equidade, e uma generosidade insuperável.

Aos 3 anos, o Diogo

Está num pico de mãezite aguda, a caminhar para o crónico. Em qualquer situação e ocasião, "é a Mamã". Já sabe andar de bicicleta com rodinhas e choca contra todos candeeiros de propósito. Despe-se sozinho para saltar para a banheira, para onde leva o balde, as panelas e os tachos dele. Continua a ser um pisco com claras inclinações vegetarianas. É um grande farsante e dado a dramatismos. Anda fascinado com monstros, ladrões, fantasmas, bruxas, e ontem chamou-me às 4 da manhã para eu fechar a porta do quarto, para não entrar o crocodilo. Faz desenhos lindos em que os membros da família parecem um cardume de polvos, e vai sempre comigo às compras, para a alegria das velhinhas do bairro. Anda de mota para todo o lado, lá em casa, estaciona-a sempre atravessada nas portas, e usa a coroa de cartolina para tomar o pequeno-almoço e para lavar os dentes (em biquinhos dos pés, já chega à torneira). Pede-me 'colinho bebé' quando o deito mas diz que já não é bebé, é um menino. Acorda todas as manhãs pronto para a vida, cantarolando-me um alegre "bom dia banana!".

07 maio 2013

ainda sobre o dia da mãe

Adoro o Dia da Mãe. O excesso de atenção que me aflige nos meus aniversários dilui-se no oceano das outras Mães, neste dia, e desinibe-me de chapinhar no eterno gozo de amar e sentir-me amada por dois pares de olhinhos brilhantes, lindos, lindos. É que vocês não estão a ver como os meus filhos são perfeitos, a sério. Não consigo fazer de conta que não me explode o coração de orgulho, de ternura, de paixão assolapada por me terem sido confiados para cuidar, para mimar, para devolver ao mundo. Por isso acho maravilhosa cada uma das dezenas de florinhas que apanharam para mim. Acho encantadores os desenhos que fizeram. Derreto-me com as declarações de amor que repetem todas as noites, mas mais ainda neste dia. E nada se compara às suas carinhas iluminadas, no momento em que me viram hoje a entrar na escola, com todo o tempo do mundo, para fazermos juntos as actividades que as educadoras tão carinhosa e esforçadamente prepararam. Digam lá todo o mal que quiserem da comercialização e banalização do Dia da Mãe. Sou Mãe todos os dias, mas neste dia sou-o um bocadinho mais.

04 maio 2013

velocidade descontrolada por radar

Lembro-me daqueles dias em que começávamos a trotar pelos quartos, pela sala, e a minha Mãe baixava o tom de voz para tentar transmitir-nos calma porque estávamos muito excitados. É claro que nada de bom podia resultar daí: fins de tarde chorosos; deitares contrariados; um alívio palpável quando nos ajeitava a dobra do lençol, no encerramento de mais uma jornada.
Vejo-me a desrespeitar esses sábios princípios, agora. Insisto em contagiá-los com o meu entusiasmo com coisas pequenas, em dar maus exemplos, em introduzir gestos desviantes. O bom de ter rotinas e previsibilidade é desatar a quebrá-las, sem pedir licença, e contemplar os efeitos. Sujar as mãos e espalhar folhas húmidas pelo chão de um quarto habitualmente arrumado. Sair de casa, só para sair de casa. Tirar a capota do jipe e ir dar uma volta sem destino, ver-lhes o cabelo ao vento e as bochechas afogueadas. Provavelmente constipam-se e chegam ao fim do dia exaustos, aos pinotes, ninguém os cala, ninguém os segura. Parece-me que está tudo no sítio, está visto que não aprendi esta lição.